Barbara Cohen. Foto: Victor Jucá/Divulgação |
Em 2016, a exibição em Cannes de seu longa-metragem Aquarius - também indicado para a Palma de Ouro - chamou a atenção do mundo inteiro quando o elenco posou no tapete vermelho mostrando cartazes que denunciavam um “golpe” contra a presidente Dilma Rousseff, que sofreu impeachment naquele ano. Sua segunda participação no festival de cinema mais famoso do planeta é “totalmente diferente”, diz o diretor pernambucano.
“O que acontece hoje com Bolsonaro tem uma ampla cobertura da imprensa internacional. Em maio de 2016, tínhamos a impressão de que a imprensa internacional não entendia realmente o que estava acontecendo no Brasil”, afirma. “Não sou político, sou um cineasta. Fizemos o protesto naquela época porque simplesmente fazia sentido, inclusive não foi nada planejado. Mas a gente realmente está querendo exibir Bacurau. Exibir em Cannes um filme foda sobre o Brasil vai ser nosso tipo de protesto.”
Bacurau é o terceiro longa-metragem de Kleber Mendonça, mas o primeiro que filma fora de sua cidade natal, Recife. O cenário escolhido dessa vez é o semiárido do nordeste brasileiro, a região do Sertão do Seridó, na divisa da Paraíba com o Rio Grande do Norte. Mendonça codirige o filme com Juliano Dornelles, parceiro em outros projetos na direção artística. No elenco, ele conta novamente com Sonia Braga, protagonista de Aquarius.
Sonia Braga e as DomingasFoto: Victor Jucá/Divulgação |
MARXISMO CULTURAL
O setor artístico enfrenta turbulências desde que o presidente Jair Bolsonaro assumiu o poder em janeiro com a promessa de erradicar o “marxismo cultural” do Brasil. O Ministério da Cultura foi extinto e suas responsabilidades transferidas para uma secretaria dentro do Ministério da Cidadania, que reúne diversas áreas como esporte e assistência social. “O marxismo cultural não existe, o que existe é o terreno livre da criação artística. Nenhum governo pode tratar a expressão artística com ideias preconcebidas, com ideologias”, diz Luiz Carlos Barreto, produtor de vasta experiência no cinema brasileiro.
No primeiro trimestre do ano, durante os primeiros meses do mandato de Bolsonaro, o financiamento de projetos audiovisuais por empresas públicas foi de mais de R$ 1 milhão. Nesse ritmo, o financiamento total de 2019 será reduzido em mais da metade em comparação a 2018. Há dez anos, quando o país vivia um boom econômico, os fundos para o setor superaram os R$ 34 milhões (2009). Além disso, Bolsonaro anunciou sua intenção de restringir o alcance da Lei Rouanet.
Diretores e produtora Emilie Lesclaux. Foto: Victor Jucá/Divulgação |
Farpas contra Trump
Primeiro latino-americano a presidir o júri no Festival de Cannes, o cineasta mexicano Alejandro González Iñárritu disparou farpas contra Donald Trump. “Parece que cada tuíte é um tijolo de isolamento que cria paranoia e ameaça”, afirmou, ontem, na abertura da mostra. Ainda segundo ele, o fato de o festival o ter chamado para ser presidente de corpo de jurados é uma “declaração que fala por si só” em relação às políticas anti-imigração nos Estados Unidos. Dois anos atrás, o diretor de Birdman e O regresso apresentou em Cannes uma instalação em realidade virtual, Carne y arena, que simulava a travessia pelo deserto empreendida por imigrantes latinos. “Foi a minha forma de responder ao que está ocorrendo não só no México, mas em todas as fronteiras do mundo.” Iñárritu também defendeu as salas de cinema diante do crescimento da Netflix. “Ver é diferente de assistir. Não tenho nada contra a possibilidade de se ter um filme no celular ou no computador, mas sei que não é a mesma coisa. O cinema nasceu como experiência comunal”, disse.
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